A Despedida', de Marcelo Galvão, faz o nonagenário Nelson Xavier
Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo
18 Junho 2016 | 16h00
Existem grandes filmes sobre a velhice e nem é preciso pensar muito para citar logo dois – Umberto D, de Vittorio de Sica, de 1951, e Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman, de 1959. O primeiro, no auge do neorrealismo, é considerado o ápice da parceria entre De Sica e o roteirista Cesare Zavattini. Conta a história da penúria de aposentado idoso que só tem a companhia de um cachorro e que chega próximo da mendicância. É a dignidade que o impede de estender a mão. Umberto D carrega no social,Morangos Silvestres tem outra pegada. O filme narra a odisseia interior do Professor Isak Borg, que atravessa os planos da realidade, da lembrança e da imaginação para resolver o problema de sua vida sem amor.
Podem existir outros filmes clássicos sobre o assunto, mas nenhum se compara a A Despedida, o longa de Marcelo Galvão em cartaz desde a semana passada nos cinemas brasileiros. Galvão venceu o Festival de Gramado de 2011 com Colegas, road movie que segue as aventuras de um trio de downianos. Colegascausou certa comoção, inclusive por ser interpretado por downianos de verdade, e isso deve ter pesado na decisão do júri que superpremiou, de forma um tanto excessiva, o longa na serra gaúcha. Galvão voltou a Gramado em 2014 com A Despedida e, desta vez, o júri atribuiu-lhe os Kikitos de direção, melhor ator e atriz. A Despedida é melhor (muito) que Estrada 47, sobre um pelotão da FEB na guerra da Itália, que venceu como melhor filme. E faz história nessa vertente da terceira idade ao abordar um tema que nem Bergman nem De Sica sequer sugerem em seus longas admiráveis – a sexualidade.
Sexo na terceira idade. Para entrar no espírito da obra, o espectador passa de cara por uma prova árdua, a cena inicial, que é lenta e exasperante. O personagem de Nelson Xavier, arruma-se para sair. Almirante tem mais de 90 anos. Cada gesto é uma dificuldade – vestir a calça, uma perna, a outra. Calçar as meias, os sapatos. Cada gesto parece que demora uma eternidade, até que, finalmente, Almirante vai para a vida. Esse idoso tem uma amante jovem, e bela – tão bela que é interpretada por Juliana Paes, e por mais desglamourizada que esteja, ela é sempre aquele espanto. Xavier e Juliana venceram os prêmios de interpretação em Gramado. A pergunta que não quer calar – como um vovozinho daqueles dá conta de um vulcão como ela? Almirante tem uma fala – enquanto tiver dedo e língua... E o resto fica por conta do leitor.
Mesmo que não tenha colocado o tema do sexo em sua abordagem do velho Professor Borg, Bergman filmava para, segundo suas palavras, encarar dois temas fundamentais – os tormentos do sexo e o silêncio de Deus. Sexo e fome, ele dizia, são os instintos básicos que impulsionam o gênero humano. Almirante é a prova. Ele pode estar nas últimas, e tem consciência da proximidade da morte. Conhece suas limitações melhor que ninguém – é comovente a cena em que tira a fralda e suspira aliviado porque está limpa. Mas da mulher, e do sexo, não desiste. Morena, a personagem de Juliana, retribui, com seu carinho por esse homem que, com certeza, já conheceu melhores dias. Foi jovem e potente. O problema, reconhece Almirante, “não é ter ficado velho; é ter sido jovem”.
Talvez a história de A Despedida tenha algo de utopia, mas não é por causa da ligação de Almirante e Morena. De cara, ao sair de casa, o idoso descobre que precisa de dinheiro. E dá seu cartão e a senha para uma estranha, uma loura, que some da vista do espectador e fica um tempão fora da tela. Cria-se o mal-estar. Ela vai sumir com o dinheiro de Almirante? Diariamente, a crônica policial nas grandes cidades brasileiras dá conta de inúmeros aposentados que são roubados em portas de banco. Pode até existir uma questão social em A Despedida. O filho de Almirante preocupa-se com o pai, mas tende a considerá-lo incapacitado. Faz questão de acompanhá-lo no café, que é onde ele diz que vai, mas não é nada isso. A Despedida é um dos muitos filmes brasileiros em cartaz.
Somente nesta quinta, 16, entraram o blockbusterMais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo(ainda não é bem a estreia, mas uma pré-estreia com horários cheios em dezenas de salas) e obras de um perfil mais autoral, como Big Jato e Trago Comigo. São todos filmes de qualidade, competindo entre si. O público tem maltratado a produção nacional. Tem filme entrando para fazer 1.500 espectadores, 1.300 no primeiro fim de semana (casos de O Outro Lado do Paraíso e Campo Grande). Mesmo que seja pelo esplendor de Juliana Paes, vá ver A Despedida. Você descobrirá Nelson Xavier, um trabalho maduro de direção, um belo filme.
Adelmar Coimbra Filho, um dos expoentes brasileiros da conservação da fauna e flora do país. Foto: Inea/Divulgação.
Morreu, na tarde de ontem (27), o primatólogo Adelmar Coimbra Filho, aos 92 anos. Um dos principais conservacionistas do país, foi uma das vozes mais eloquentes contra a extinção do mico-leão-dourado, além de idealizar o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), criado em 1975. Adelmar foi fundador e diretor do Centro até 1994, quando se aposentou.
Cearense crescido em Pernambuco e radicado no Rio de Janeiro, Adelmar era um apaixonado pela Mata Atlântica. Com carreira acadêmica sólida, publicou mais de 200 trabalhos científicos. A importância de seu trabalho foi reconhecida por colegas, que o homenagearam dando seu nome a espécies de macaco (Callicebus coimbrai), de percevejo (Taedia coimbrai), de uma bromélia (Neoregelia coimbraii) e de um fóssil macaco (Cartelles coimbrafilhoi).
Sobre ele, a ambientalista Maria Tereza Jorge Pádua enviou a ((o))eco o seguinte depoimento:
O Brasil perdeu seu grande primatólogo e conservacionista Adelmar Coimbra Filho. Dentre os inúmeros feitos inéditos de Adelmar, repercutirá para sempre o redescobrimento de uma espécie de mico-leão, o de cara preta Leontopithecus chrysopygus, que, em 1975, já era considerada extinta havia 50 anos. Por causa desta redescoberta, a inundação da hidroelétrica de Rosana em São Paulo, onde vive este mico-leão, foi a mais cuidadosa até hoje feita no pais. Adelmar também começou a criação e reintrodução das três espécies de micos-leões então descritas no país (hoje há uma quarta), em conjunto com nossa querida Lou Ann Dietz e, mais tarde, com Claudio Padua.
Ninguém conhecia tanto de nossa fauna silvestre como ele. Pela modéstia, evitava a mídia, detestava viajar e não aceitava convites para jantares ou coquetéis. Foi também um exemplo de vida honesta, junto com sua maravilhosa Jaqueline e filhos.
Tive a chance de conhecê-lo bem. Escrevemos um livro juntos em 1979. Meu Deus, vocês não sabem o como era minucioso e sério. Foi um trabalho exaustivo. Ele publicou centenas de trabalhos científicos, alguns em coautoria com Ibsen de Gusmão Câmara.
Homens como Adelmar mantêm vivas as esperanças no futuro da conservação da Natureza no Brasil. Um saudoso até breve meu querido amigo, grande cientista e, além de tudo, pintor também.
Norberto Odebrecht morreu aos 93 anos, em SalvadorReprodução/wikimedia.org
Faleceu no início da noite de sábado (19), em Salvador, o fundador do
grupo Odebrecht, Norberto Odebrecht, de 93 anos. Segundo a empresa, ele
teve complicações cardíacas. O enterro será realizado neste domingo
(20), às 11h, no cemitério Campo Santo.
A Construtora Norberto Odebrecht foi criada por ele em 1944. Hoje o
conglomerado fatura cerca de R$ 100 bilhões por ano, atua em 23 países e
emprega 200 mil pessoas.
O grupo completa 70 anos em agosto e uma grande festa estava sendo preparada. TCU vê superfaturamento em trechos da ferrovia norte-sul Trabalhador poderá ter 30 dias anuais de férias independentemente de faltas
Nascido no Recife em 9 de outubro de 1920, Norberto era formado em Engenharia. Foi para Salvador com os pais aos 5 anos.
Aos 15, começou a trabalhar na oficina da empresa do pai, a Emílio
Odebrecht, onde aprendeu ofícios de pedreiro, serralheiro e armador.
Aos 21, assumiu a empresa do pai e, dois anos depois, criou a Construtora Norberto Odebrecht.
Atuou por vários anos no Nordeste e nos anos 1970 expandiu a atuação para outras regiões.
O passo seguinte foi a internacionalização. Publicou diversos livros, entre eles "Educação pelo Trabalho" (1991).
Em 1991, passou a presidência da Odebrecht ao filho Emílio e se tornou
presidente do Conselho de Administração, cargo também assumido pelo
filho em 1998.
Desde então, era presidente de honra da Odebrecht, além de presidente
do Conselho de Curadores da Fundação Odebrecht, criado por ele em 1965 e
que hoje atua em projetos sociais na Bahia.
O filho Emílio segue na presidência do Conselho de Administração e o neto Marcelo é diretor-presidente do grupo desde 2009.
Maíra Heinen - Repórter da Rádio Nacional da AmazôniaEdição: Graça Adjuto
Morreu nessa sexta-feira (2), às 23h30, em Goiânia, o bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás Balduíno. O religioso tinha 91 anos e morreu em decorrência de uma tromboembolia pulmonar. Ele ficou internado de 14 a 24 de abril no Hospital Anis Rassi, em Goiânia. Teve alta hospitalar no dia 24, mas foi novamente internado no dia seguinte, no Hospital Neurológico, também em Goiânia, onde permaneceu até ontem. O corpo será velado na Igreja São Judas Tadeu, na capital goiana, até as 10h de amanhã, quando será celebrada uma missa. De lá, segue para a cidade de Goiás, onde será velado na Catedral até as 9h de segunda-feira (5). Dom Tomás Balduíno nasceu na cidade de Posse, em Goiás, no dia 31 de dezembro de 1922. É filho de José Balduino de Sousa Décio, goiano, e de Felicidade de Sousa Ortiz, paulista. Seu nome de batismo é Paulo Balduino de Sousa Décio. Ao se tornar religioso, o dominicano recebeu o nome de frei Tomás. Em 1957, foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia (Pará), onde começou a conviver com a realidade de indígenas e camponeses. Na época, a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz com os índios, fez mestrado em antropologia e linguística na Universidade de Brasília, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios xicrins, dos grupos Bacajá e Kayapó. Em 1965, foi nomeado prelado de Conceição do Araguaia. Na região atuou para impedir a invasão de áreas indígenas e a expulsão de pequenos camponeses por parte de grandes empresas agropecuárias. Foi nomeado bispo da cidade de Goiás em 1967, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999. Ao completar 75 anos, renunciou e mudou-se para Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a ditadura militar (1964-1985). Dom Tomás teve papel importante na criação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Foi presidente do Cimi, de 1980 a 1984, e presidente da CPT, de 1999 a 2005.
Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF)
- Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia.
Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.